Abutres do Novo Mundo
Em minha
caminhada matinal hoje vi um número expressivo de Abutres do Novo Mundo (mais
conhecidos por nós como urubus) sobrevoando um espaço próximo e, logo ao sentir
o cheiro de putrefação, percebi que se tratava de um cadáver de algum animal.
Minha mente levou-me ao tempo em que vivia no Nordeste e como essa cena era
comum em minha adolescência.
Os abutres são
atraídos pela carne em estado de decomposição (são necrófagos) e os poderosos
sucos gástricos em seu estômago fazem uma perfeita digestão sem adoecê-los ou
matá-los. O próprio Jesus mencionou em um de seus discursos que o hábito desses
animais tem relação direta com o ser humano e suas ações. Ele disse:
“Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias (ou abutres)”.
(Mateus 24.28)
Com essa
imagem em mente, fui deslocado para a chuva torrencial de notícias semanais
sobre a corrupção nos mais variados níveis da vida diária em nosso país. Claro,
já estamos quase esgotados com tantas formas que as pessoas corrompidas, ética
e moralmente, encontram para burlar as leis, enganar sistemas e desviar
quantias vultosas de dinheiro.
Estouram
denúncias e mais denúncias, CPI’s são abertas, julgamentos são realizados,
pessoas (algumas) são condenadas e presas, “caixas-pretas” são reveladas,
pessoas são ameaçadas e até mortas pelo esquema corruptor, e continuamente esse
“aguaceiro” maldito não cessa de jorrar sua podridão. Descobrimos que a
corrupção brasileira é endêmica, ou seja, está ligada a nós como a nossa pele e
pode atingir a todos como “Cosa mostra”.
Nesse instante
percebi a realidade da coisa. Os abutres ou urubus só rodeiam certos locais
porque o cadáver está ali. Se não houvesse carne em putrefação, eles
sobrevoariam outros locais em busca de seu alimento. Os urubus se alimentam
deste tipo de material e não podem ser julgados por sua natureza, pois isso é
de seu instinto animal. Mas o que dizer dos homens? Em nossa sociedade e em
muitos dos seus lugares de poder e governo se instalaram abutres-humanos.
Entendi que
toda essa corrupção e desmandos, toda essa podridão e DNA malditos só atraem
abutres-humanos para perto de si. Óbvio que todos temos nossos erros e falhas e
estamos sujeitos a quedas, mas o que estou falando não é deste nível de falha
humana que pode ser resolvida com arrependimento e retorno à sensatez, estou
falando dessa condição latente em certos ambientes que não apenas facilita, mas
altera o caráter e a moral de todos ao seu redor.
É como um
vírus sem cura que está escondido nas células do corpo e em certas condições e
ambientes físicos favoráveis se manifesta trazendo destruição certa não havendo
nada que possa ser feito e, qualquer que seja a intervenção cirúrgica ou
medicamentosa, apenas retardará a morte por um pouco mais de tempo, todavia com
grande sofrimento. Da mesma maneira, esses urubus-homens, corroem e consomem a
tudo o que tocam.
Os locais de
corrupção nunca poderiam ser habitados por pessoas de ética, caráter e moral,
pois elas não resistiriam ao “mau cheiro” que eles exalam. Mas para os
abutres-humanos, esses locais são um “paraíso alimentar”, pois são sua fonte de
prazer e satisfação. A corrupção atrai os urubus-homens porque é “carne em
putrefação” e estes só podem viver perto dessa “iguaria”.
Então, minha
mente voou para um ponto mais distante. Como evitar que essa “carne putrefata”
esteja disponível a esses abutres-humanos? A morte é certa para todos os
animais e seres humanos, portanto, não podemos evitar a morte que causa a
decomposição, mas podemos evitar que o cadáver seja exposto. Quando o dono de
um animal morto faz sua parte, ou seja, enterra seu animal, os urubus não
aparecem.
Em nossa
sociedade e locais de poder/governo, algumas coisas vão “morrer”, tornarem-se
obsoletas e necessitar de novas tecnologias para evitar as fraudes, mas isso
deve ser feito com extrema rapidez para que os urubus-homens não se utilizem
dessas “brechas” para sangrarem nossos recursos que nos são tão caros.
Precisamos ser habilidosos para não permitirmos que nossos “cadáveres” estejam
expostos atraindo esses animais-homens.
Voltei meus pensamentos à minha
esposa que caminhava comigo e pensei que deveria me expressar sobre esse
assunto.
Carlos Carvalho
Setembro de 2013