13 de set. de 2013


Abutres do Novo Mundo

Em minha caminhada matinal hoje vi um número expressivo de Abutres do Novo Mundo (mais conhecidos por nós como urubus) sobrevoando um espaço próximo e, logo ao sentir o cheiro de putrefação, percebi que se tratava de um cadáver de algum animal. Minha mente levou-me ao tempo em que vivia no Nordeste e como essa cena era comum em minha adolescência.
Os abutres são atraídos pela carne em estado de decomposição (são necrófagos) e os poderosos sucos gástricos em seu estômago fazem uma perfeita digestão sem adoecê-los ou matá-los. O próprio Jesus mencionou em um de seus discursos que o hábito desses animais tem relação direta com o ser humano e suas ações. Ele disse:

“Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias (ou abutres)”. (Mateus 24.28)

Com essa imagem em mente, fui deslocado para a chuva torrencial de notícias semanais sobre a corrupção nos mais variados níveis da vida diária em nosso país. Claro, já estamos quase esgotados com tantas formas que as pessoas corrompidas, ética e moralmente, encontram para burlar as leis, enganar sistemas e desviar quantias vultosas de dinheiro.

Estouram denúncias e mais denúncias, CPI’s são abertas, julgamentos são realizados, pessoas (algumas) são condenadas e presas, “caixas-pretas” são reveladas, pessoas são ameaçadas e até mortas pelo esquema corruptor, e continuamente esse “aguaceiro” maldito não cessa de jorrar sua podridão. Descobrimos que a corrupção brasileira é endêmica, ou seja, está ligada a nós como a nossa pele e pode atingir a todos como “Cosa mostra”.

Nesse instante percebi a realidade da coisa. Os abutres ou urubus só rodeiam certos locais porque o cadáver está ali. Se não houvesse carne em putrefação, eles sobrevoariam outros locais em busca de seu alimento. Os urubus se alimentam deste tipo de material e não podem ser julgados por sua natureza, pois isso é de seu instinto animal. Mas o que dizer dos homens? Em nossa sociedade e em muitos dos seus lugares de poder e governo se instalaram abutres-humanos.

Entendi que toda essa corrupção e desmandos, toda essa podridão e DNA malditos só atraem abutres-humanos para perto de si. Óbvio que todos temos nossos erros e falhas e estamos sujeitos a quedas, mas o que estou falando não é deste nível de falha humana que pode ser resolvida com arrependimento e retorno à sensatez, estou falando dessa condição latente em certos ambientes que não apenas facilita, mas altera o caráter e a moral de todos ao seu redor.

É como um vírus sem cura que está escondido nas células do corpo e em certas condições e ambientes físicos favoráveis se manifesta trazendo destruição certa não havendo nada que possa ser feito e, qualquer que seja a intervenção cirúrgica ou medicamentosa, apenas retardará a morte por um pouco mais de tempo, todavia com grande sofrimento. Da mesma maneira, esses urubus-homens, corroem e consomem a tudo o que tocam.

Os locais de corrupção nunca poderiam ser habitados por pessoas de ética, caráter e moral, pois elas não resistiriam ao “mau cheiro” que eles exalam. Mas para os abutres-humanos, esses locais são um “paraíso alimentar”, pois são sua fonte de prazer e satisfação. A corrupção atrai os urubus-homens porque é “carne em putrefação” e estes só podem viver perto dessa “iguaria”.

Então, minha mente voou para um ponto mais distante. Como evitar que essa “carne putrefata” esteja disponível a esses abutres-humanos? A morte é certa para todos os animais e seres humanos, portanto, não podemos evitar a morte que causa a decomposição, mas podemos evitar que o cadáver seja exposto. Quando o dono de um animal morto faz sua parte, ou seja, enterra seu animal, os urubus não aparecem.

Em nossa sociedade e locais de poder/governo, algumas coisas vão “morrer”, tornarem-se obsoletas e necessitar de novas tecnologias para evitar as fraudes, mas isso deve ser feito com extrema rapidez para que os urubus-homens não se utilizem dessas “brechas” para sangrarem nossos recursos que nos são tão caros. Precisamos ser habilidosos para não permitirmos que nossos “cadáveres” estejam expostos atraindo esses animais-homens.

Voltei meus pensamentos à minha esposa que caminhava comigo e pensei que deveria me expressar sobre esse assunto.

Carlos Carvalho
Setembro de 2013