16 de out. de 2013


HISTÓRIA RECENTE DA AMÉRICA LATINA – AUTORITARISMO E RETORNO À DEMOCRACIA - CHILE

De fato a América Latina tem experimentado grandes mudanças, ora algumas que parecem distorcer o espírito da democracia, como alguns “aparentes desmandos” que rondam o governo argentino na atualidade, ora mudanças que alteram definitivamente o cenário dos países, como quando da libertação das tiranias nas décadas passadas.

Não é diferente no Chile, país que Faz fronteira ao norte com o Peru, a nordeste com a Bolívia, a leste com a Argentina e um dos dois únicos países da América do Sul que não tem uma fronteira comum com o Brasil. Atualmente, o Chile é um dos países mais estáveis e prósperos da América do Sul. Dentro do contexto maior da América Latina, é o melhor em termos de desenvolvimento humano, competitividade, qualidade de vida, estabilidade política, globalização, liberdade econômica, baixa percepção de corrupção e índices comparativamente baixos de pobreza. Também é elevado o nível regional de liberdade de imprensa e de desenvolvimento democrático[1].

Em sua recente história, seu longo período democrático (de 1932-1973)[2] foi brutalmente cortado no golpe de estado de 1973, do general Augusto Pinochet, que derrubou o então presidente eleito democraticamente Salvador Allende, que se suicidou ao final do golpe no Palácio da Moneda, sede do governo chileno. A ditadura no Chile durou 17 anos e findou-se em 1990 após o plebiscito nacional de 88 no qual o povo decidiu por novas eleições e pelo fim do regime ditatorial.

No decurso deste regime, mais de 3.000 pessoas foram executadas e mais de 30.000 foram torturadas na sangrenta troca do poder que se deu em solo chileno. Mesmo com o processo de redemocratização iniciado, o Chile ainda sofria com uma democracia protegida com a Constituição de 1980 que dava proteção aos militares e indulgência de não serem julgados ou punidos pelos atos da ditadura. Mas nos últimos anos, os tribunais do Chile não aplicaram a lei de anistia.

Em 1991, o Informe da Comissão Nacional de Verdade e Conciliação (Comissão Rettig) documentou 2.296 casos de pessoas que haviam sido vítimas de homicídio político, dos quais quase mil eram casos de desaparecimento forçado. Em 2004 e 2005, o informe da Comissão Nacional sobre Prisão Política e Tortura (Comissão Valech) apurou que 28.459 pessoas haviam sido detidas por motivos políticos e que a maioria delas havia sido torturada. A Comissão foi reaberta em 2010 para avaliar mais casos de desaparecimento forçado, homicídio político, encarceramento por motivos políticos e tortura[3].

Os avanços do país nas últimas décadas também mostram suas insuficiências e contradições. O movimento estudantil pôs o dedo na ferida aberta por expectativas que o progresso chileno criou, mas não se mostrou capaz até aqui de atender. O ponto politicamente mais sensível está num sistema de educação superior que obriga os alunos a assumir dívidas para financiar seus estudos, mas não os capacita para obter empregos com salários que permitam pagar o empréstimo contraído[4].

Assim vemos o Chile, mas certamente seu povo o vê de maneira diferente. Um país que lutou bravamente e mesmo contra as leis impostas pela ditadura após a ditadura em sua Constituição, que disse “Não” ao regime militar assassino de seus cidadãos, que disse “Sim” à Democracia, mesmo em meio a dor e ao sofrimento, um povo que espera que a justiça seja feita aos criminosos de seu anterior regime, mas que ainda luta pelos Direitos Humanos das famílias vitimadas e por uma educação de qualidade e gratuita a todos, não uma educação “vendida” pelas privatizações de seu sistema educacional.

© Carlos Carvalho





[1] Dado de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Chile
[4] http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,chile-entre-o--passado-e-o-futuro-,1082866,0.htm