DIA DA CONSCIÊNCIA
NEGRA
Este dia é
celebrado desde 1960, mas foi instituído por lei em 10 de novembro de 2011 por Decreto
de Lei n.12.519, pela Presidenta Dilma Roussef. Ele marca a lembrança da morte
de Zumbi, em 1615, e assinala um dia de reflexão acerca da inserção do negro na
sociedade brasileira. Da mesma forma, remete à memória da resistência à
escravidão do negro desde que chegou ao Brasil.
Importante ressaltar
que a reflexão sobre o negro e a sociedade brasileira tem se dado num contexto
bem plural. Há uma tentativa de se refazer os passos e a história até as raízes
e matrizes africanas e ao mesmo tempo manter uma forma de religiosidade que não
faz parte do cotidiano da maioria dos negros no Brasil hoje, nem tampouco dos
africanos atuais.
Paralelamente,
há uma tentativa ingênua de se criar em cada local de tradição religiosa “africana”,
uma espécie de embaixada de outra nação, onde não se pode inferir nem legislar acerca
de suas ações ou conteúdos. Ao se tentar tocar nos assuntos, logo se levantam
acusações de preconceito, racismo e intolerância, da mesma maneira como ocorre
com certas minorias militantes no país.
Outro dado a
prestar atenção é que no último Censo (2010)[1],
menos da metade da população brasileira se declarava branca (91 milhões) e os
que se declaravam pardos (mestiços), negros, amarelas e indígenas, chegavam
quase a 100 milhões de pessoas. Isso é ímpar, pois o nosso país não é de
maioria branca. O mesmo estudo afirma que somente 15 milhões se declaravam
negros, portanto, também, uma minoria.
Na questão
religiosa, o mesmo Censo demonstra que entre os declarados negros (15 milhões),
apenas 21% disseram ser de religião afro-brasileira, isso significa que no
total geral dos habitantes (levando em consideração somente os dados oficiais),
0,3% da população brasileira participa dessas manifestações religiosas. Levando-nos
a inferir que nem os próprios negros no Brasil aderem às religiões das suas
matrizes originais.
Não há uma
religião natural no Brasil, todas são importadas, da mesma forma que não existe
uma cultura nacional, pois todas as que possuímos também são importadas. A cultura
indígena talvez seja a única que se caracteriza como natural, mas mesmo esta
não se solidificou, obviamente por uma série de acontecimentos que lhe tolheu a
própria existência, restando pouco em nossos dias a se preservar.
Portanto, de
acordo com os dados da evolução populacional e a manifestação religiosa em
nosso país, é certo concluir que em termos de religião ou cultura, tudo é
mutável ou “migrável”, pois há uma enorme massa humana que vai se movendo entre
as religiões com o passar do tempo. Religião e cultura no Brasil não é coisa de
família e ancestralidade, mas de escolha pessoal. Isso deve ser respeitado e
não se deve tentar impor modelos, mesmo sob la força da Lei.
Não devemos diferenciar
negativamente as pessoas por causa da cor da sua pele ou de sua classe social. As
diferenças sempre existirão entre as pessoas, mas é necessário que a regra
áurea da humanidade seja o princípio norteador dos relacionamentos sociais.
Tiago deixou escrito:
Se vós, contudo, cumprirdes a lei
régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, sem dúvida
fazeis bem.
Mas se vos deixais levar por
distinção de pessoas, cometeis pecado, sendo condenados pela lei como
transgressores.
Tiago 2:8-9
© Carlos Carvalho
Teólogo e graduando em Ciências
Sociais.
Fundador e Presidente da ONG
ABAN-Brasil
Imagem: Pintura do artista alemão Johann
Moritz Rugendas de negros jogando capoeira no Brasil. Disponível na internet.
[1]Censo Demográfico 2010: Características
gerais da população, religião e pessoas com deficiência. http://loja.ibge.gov.br/censo-demografico-2010-caracteristicas-gerais-da-populac-o-religi-o-e-pessoas-com-deficiencia.html