28 de mar. de 2015

A NOVA GERAÇÃO



A NOVA GERAÇÃO

Tenho refletido sobre os fundamentos da atual geração de pessoas, aqueles que nasceram na década de 1990 para cá e contam aproximadamente com no máximo 20 e poucos anos. Uma geração pós-moderna e dominadora de uma gama de tecnologias que há trinta ou quarenta anos atrás só era imaginada nos livros e filmes de ficção científica.

Essa dita geração “Y” foi criada e cresceu em bases que considero extremamente equivocadas, prejudiciais e, que, as passadas gerações, não ousaram mudar ou quebrar os limites morais e sociais que as mantinham unidas, coesas e firmes. Foram precisamente essas bases removidas, as causadoras da formação de um universo quase caótico nos adolescentes e jovens de hoje.

Não desejo culpar os mais novos pelos erros que nós cometemos ou que nossa geração anterior cometeu no sentido de mudar para sempre os alicerces sociais, relacionais e científicos pelos quais possuíamos sentido de certeza e direção para a própria vida, através dos ideais e sonhos – que ao contrário do que podem dizer, foram concretizados por nós – e também da construção de um mundo melhor para os nossos filhos, a culpa não é da nova geração, ela é herdeira de nossas ações.

Muitos de nossos projetos geracionais foram realizados, como a liberdade de expressão, os direitos das mulheres, a democracia em pleno processo de maturidade, as eleições diretas, uma melhor preparação para o mundo do trabalho, a conquista de novos espaços para o crescimento pessoal, a possibilidade de melhores estudos e de acesso à universidade, e a lista pode continuar, apenas pensando no Brasil.

É certo que outras pessoas fariam uma lista extensa de coisas que não estão bem e daqueles que deveriam melhorar com urgência, mas não podemos negar duas coisas: que houve mudanças positivas em larga escala e em todos os aspectos em comparação com o nosso passado não muito distante, e que a possibilidade concreta de se fazer novas mudanças não nos foi e nem será tirada por nenhum governo atual nem futuro, ao menos em uma perspectiva de médio prazo (pois não ousaria dar uma de profeta nacional neste tempo!).

Retornando ao tema da geração atual, disse que ela cresceu em bases equivocadas. Penso que duas se destacam a priori.

A primeira, diz respeito à extrema liberdade que lhe demos para viver suas vidas, de tal maneira que faz parecer a eles que se criaram sozinhos, sem o auxílio dos “mais velhos”. Essa falsa liberdade sem limites claros tornou-se um “calcanhar de Aquiles” para a sua maneira de se relacionar com aqueles a quem deveriam mostrar mais respeito e humildade, e o pior, no afã de se libertarem definitivamente de suas “travas” e “opressores” paternos, romperam com a própria História, e, sem esta, transformaram-se em criadores de seu próprio destino, porém sem rumo, sem a mínima noção de direção e numa profunda incerteza do amanhã, coisa que jamais foi experimentado pelas gerações passadas, não certamente nestes níveis.

A segunda nos remete à enorme massa quase que infinita de informações a que esta geração tem à sua disposição. É tão volumosa e asfixiante que ela não sabe distinguir entre o certo e o errado ou entre o verdadeiro e o falso. Não têm a vivência e experiência necessárias para fazerem essa distinção, tampouco têm as faculdades mentais amadurecidas para realizar este feito, mas como romperam com os antepassados, ficaram órfãos em si mesmos, sem referências para efetivar corretamente as conclusões do que vêm e do que pensam. Nesta outra base fundamental equivocada, passaram a não aceitar bem as ideias de autoridade, modelos, experiências de vida e passaram a enxergar com desconfiança qualquer coisa, pessoa ou instituição que seja anterior a sua própria existência.

Óbvio que para qualquer observador por menos imparcial que seja que os resultados não seriam outros senão aqueles que se vêm diariamente. Aumento da delinquência e criminalidade exatamente nas idades que deveriam ser mais protegidas pelos pais, aumento do consumo de entorpecentes, tabaco e álcool nas mesmas faixas etárias, aumento da contaminação por doenças sexualmente transmissíveis nos mais novos e a coisa não para por aí. Com as mudanças dos paradigmas benéficos – pois penso que muitos paradigmas precisem ser mudados para o bem de tosos -, esta geração destruiu a saudável relação de família, de amizade e de convivência respeitosa entre si e com as outras gerações.

Bem, estes são os problemas, mas quais as soluções? Nada fácil de responder, pois o que aí vemos não é um produto que foi criado ontem, mas uma construção de pelo menos três gerações. Se fôssemos bem otimistas diríamos que levaríamos ao menos o mesmo tempo em gerações para corrigir os erros que afunilaram neste tempo, mas sabemos que sem uma intenção clara, sem a devida força moral e sem a coragem para confrontar essas bases e removê-las ao ponto de trazer de volta os paradigmas benéficos, não lograremos êxito algum.

Essas soluções alcançadas pelo emprego de força moral, não política; por força de caráter, não por violência; pelo emprego da verdadeira autoridade, não pelo autoritarismo; pela força do amor que deseja o bem real da geração e não pela simples necessidade de ordem social, fariam toda a diferença no contexto atual, sem isso, nada feito!

Alguns diriam que uso certa dose de saudosismo, nada mais ridículo que isso. Dizer que é saudosismo é fazer o papel simplista de gente que não gosta de pensar e quer tudo pronto, do modo mais fácil ou acha que tudo deve ficar como está porque tem interesse escuso no processo que aí está. Procurar soluções com a experiência do passado é fazer com ele exatamente aquilo a que o passado se destina: ser uma fonte de sabedoria para se corrigir a rota do presente e repensar o futuro. Por isso é necessário ir ao passado, pois o futuro não pode nos dar referências e o presente precisa ser alterado.

Já estamos cansados de saber que o caminho a trilhar é longo, não podemos esperar mais. Comecemos a andar já!


Carlos de Carvalho

Cientista Social