Tenho refletido sobre os
fundamentos da atual geração de pessoas, aqueles que nasceram na década de 1990
para cá e contam aproximadamente com no máximo 20 e poucos anos. Uma geração
pós-moderna e dominadora de uma gama de tecnologias que há trinta ou quarenta
anos atrás só era imaginada nos livros e filmes de ficção científica.
Essa dita geração “Y” foi criada
e cresceu em bases que considero extremamente equivocadas, prejudiciais e, que,
as passadas gerações, não ousaram mudar ou quebrar os limites morais e sociais
que as mantinham unidas, coesas e firmes. Foram precisamente essas bases
removidas, as causadoras da formação de um universo quase caótico nos
adolescentes e jovens de hoje.
Não desejo culpar os mais novos
pelos erros que nós cometemos ou que nossa geração anterior cometeu no sentido
de mudar para sempre os alicerces sociais, relacionais e científicos pelos
quais possuíamos sentido de certeza e direção para a própria vida, através dos
ideais e sonhos – que ao contrário do que podem dizer, foram concretizados por
nós – e também da construção de um mundo melhor para os nossos filhos, a culpa
não é da nova geração, ela é herdeira de nossas ações.
Muitos de nossos projetos
geracionais foram realizados, como a liberdade de expressão, os direitos das
mulheres, a democracia em pleno processo de maturidade, as eleições diretas,
uma melhor preparação para o mundo do trabalho, a conquista de novos espaços
para o crescimento pessoal, a possibilidade de melhores estudos e de acesso à
universidade, e a lista pode continuar, apenas pensando no Brasil.
É certo que outras pessoas fariam
uma lista extensa de coisas que não estão bem e daqueles que deveriam melhorar
com urgência, mas não podemos negar duas coisas: que houve mudanças positivas
em larga escala e em todos os aspectos em comparação com o nosso passado não
muito distante, e que a possibilidade concreta de se fazer novas mudanças não
nos foi e nem será tirada por nenhum governo atual nem futuro, ao menos em uma
perspectiva de médio prazo (pois não ousaria dar uma de profeta nacional neste
tempo!).
Retornando ao tema da geração
atual, disse que ela cresceu em bases equivocadas. Penso que duas se destacam a priori.
A primeira, diz respeito à extrema liberdade que lhe demos para
viver suas vidas, de tal maneira que faz parecer a eles que se criaram
sozinhos, sem o auxílio dos “mais velhos”. Essa falsa liberdade sem limites
claros tornou-se um “calcanhar de Aquiles” para a sua maneira de se relacionar
com aqueles a quem deveriam mostrar mais respeito e humildade, e o pior, no afã
de se libertarem definitivamente de suas “travas” e “opressores” paternos,
romperam com a própria História, e, sem esta, transformaram-se em criadores de
seu próprio destino, porém sem rumo, sem a mínima noção de direção e numa
profunda incerteza do amanhã, coisa que jamais foi experimentado pelas gerações
passadas, não certamente nestes níveis.
A segunda nos remete à enorme massa quase que infinita de
informações a que esta geração tem à sua disposição. É tão volumosa e
asfixiante que ela não sabe distinguir entre o certo e o errado ou entre o
verdadeiro e o falso. Não têm a vivência e experiência necessárias para fazerem
essa distinção, tampouco têm as faculdades mentais amadurecidas para realizar
este feito, mas como romperam com os antepassados, ficaram órfãos em si mesmos,
sem referências para efetivar corretamente as conclusões do que vêm e do que
pensam. Nesta outra base fundamental equivocada, passaram a não aceitar bem as
ideias de autoridade, modelos, experiências de vida e passaram a enxergar com
desconfiança qualquer coisa, pessoa ou instituição que seja anterior a sua
própria existência.
Óbvio que para qualquer
observador por menos imparcial que seja que os resultados não seriam outros senão
aqueles que se vêm diariamente. Aumento da delinquência e criminalidade
exatamente nas idades que deveriam ser mais protegidas pelos pais, aumento do
consumo de entorpecentes, tabaco e álcool nas mesmas faixas etárias, aumento da
contaminação por doenças sexualmente transmissíveis nos mais novos e a coisa
não para por aí. Com as mudanças dos paradigmas benéficos – pois penso que
muitos paradigmas precisem ser mudados para o bem de tosos -, esta geração
destruiu a saudável relação de família, de amizade e de convivência respeitosa
entre si e com as outras gerações.
Bem, estes são os problemas, mas
quais as soluções? Nada fácil de responder, pois o que aí vemos não é um
produto que foi criado ontem, mas uma construção de pelo menos três gerações.
Se fôssemos bem otimistas diríamos que levaríamos ao menos o mesmo tempo em
gerações para corrigir os erros que afunilaram neste tempo, mas sabemos que sem
uma intenção clara, sem a devida força moral e sem a coragem para confrontar
essas bases e removê-las ao ponto de trazer de volta os paradigmas benéficos,
não lograremos êxito algum.
Essas soluções alcançadas pelo
emprego de força moral, não política; por força de caráter, não por violência;
pelo emprego da verdadeira autoridade, não pelo autoritarismo; pela força do
amor que deseja o bem real da geração e não pela simples necessidade de ordem
social, fariam toda a diferença no contexto atual, sem isso, nada feito!
Alguns diriam que uso certa dose
de saudosismo, nada mais ridículo que isso. Dizer que é saudosismo é fazer o
papel simplista de gente que não gosta de pensar e quer tudo pronto, do modo
mais fácil ou acha que tudo deve ficar como está porque tem interesse escuso no
processo que aí está. Procurar soluções com a experiência do passado é fazer
com ele exatamente aquilo a que o passado se destina: ser uma fonte de
sabedoria para se corrigir a rota do presente e repensar o futuro. Por isso é
necessário ir ao passado, pois o futuro não pode nos dar referências e o
presente precisa ser alterado.
Já estamos cansados de saber que
o caminho a trilhar é longo, não podemos esperar mais. Comecemos a andar já!
Carlos de Carvalho
Cientista Social