BUROCRACIA POLICIAL
Sabemos que em nosso país a
burocracia merece o apelido de “burrocracia”. Também não ignoramos que essa
burocracia beneficia a certos setores governamentais e facilita a corrupção e o
desvio de recursos públicos aos “abutres” no poder. São fatos infelizes, mas
reais em nossa amada pátria.
Soube de uma história que é tão
absurda, mas perfeitamente cabível nos moldes dessa confusão oficial instalada
desde sempre nos meandros civis e militares por aqui. A contarei sutilmente
para preservar as famílias envolvidas na situação, por respeito ao sofrimento
causado pelo caso e compreendendo que muito disso não é culpa da força
policial, mas do sistema que não serve às atuais necessidades das vítimas e
tampouco serve às demandas criminais de nossos dias.
Um homem em minha cidade num ato
passional e violento matou sua companheira com um golpe chamado Hadaka Jime ou
Mata-Leão (como foi apelidado no Brasil). É um golpe de estrangulamento usado
nas artes marciais japonesas, realizada pelas costas do oponente. É original do
grupo de técnicas do jiu-jítsu e judô, conhecido como shime waza.
Após matá-la levou-a a um local
em sua região e deixou o corpo à vista de quem passasse por ali. Veio-lhe um
tremendo remorso pelo feito e decidiu entregar-se à polícia, confessando o
crime e dizendo onde o corpo poderia ser encontrado. Apurado os fatos, a
burocracia policial não o pode prender, pois sem o corpo (ainda não feito
análise no IML), sendo o mesmo réu primário e não ter sido lavrado os autos
para pedir sua prisão preventiva, mandaram-no esperar em sua residência, depois
de liberá-lo da delegacia.
O seu crime chegou aos ouvidos
dos reais criminosos de sua região e ameaçaram-lhe tirar a vida se o
encontrassem e, temendo por sua vida (sem imaginar que tirou a de sua esposa
sem pensar), foi novamente à delegacia para tentar ser preso pela segunda vez.
Ao chegar, já havia dado tempo dos autos serem lavrados e sua prisão já havia
sido pedida, foi encaminhado ao cárcere.
Isso não foi ficção, filme ou
novela. Aconteceu realmente. É vergonhoso, trágico e assustador o caminho que
nossa lei tomou para punir os crimes na sociedade e a ridícula tolerância que
vemos com a hediondez perpetrada pelos que sabem que ficarão impunes com todas
as desculpas que se dá para manter esse status
quo.
Como constantemente diz minha
esposa: “Que é isso, Brasil?”
© C. K. Carvalho
Agosto de 2014