25 de ago. de 2014


BUROCRACIA POLICIAL

Sabemos que em nosso país a burocracia merece o apelido de “burrocracia”. Também não ignoramos que essa burocracia beneficia a certos setores governamentais e facilita a corrupção e o desvio de recursos públicos aos “abutres” no poder. São fatos infelizes, mas reais em nossa amada pátria.

Soube de uma história que é tão absurda, mas perfeitamente cabível nos moldes dessa confusão oficial instalada desde sempre nos meandros civis e militares por aqui. A contarei sutilmente para preservar as famílias envolvidas na situação, por respeito ao sofrimento causado pelo caso e compreendendo que muito disso não é culpa da força policial, mas do sistema que não serve às atuais necessidades das vítimas e tampouco serve às demandas criminais de nossos dias.

Um homem em minha cidade num ato passional e violento matou sua companheira com um golpe chamado Hadaka Jime ou Mata-Leão (como foi apelidado no Brasil). É um golpe de estrangulamento usado nas artes marciais japonesas, realizada pelas costas do oponente. É original do grupo de técnicas do jiu-jítsu e judô, conhecido como shime waza.

Após matá-la levou-a a um local em sua região e deixou o corpo à vista de quem passasse por ali. Veio-lhe um tremendo remorso pelo feito e decidiu entregar-se à polícia, confessando o crime e dizendo onde o corpo poderia ser encontrado. Apurado os fatos, a burocracia policial não o pode prender, pois sem o corpo (ainda não feito análise no IML), sendo o mesmo réu primário e não ter sido lavrado os autos para pedir sua prisão preventiva, mandaram-no esperar em sua residência, depois de liberá-lo da delegacia.

O seu crime chegou aos ouvidos dos reais criminosos de sua região e ameaçaram-lhe tirar a vida se o encontrassem e, temendo por sua vida (sem imaginar que tirou a de sua esposa sem pensar), foi novamente à delegacia para tentar ser preso pela segunda vez. Ao chegar, já havia dado tempo dos autos serem lavrados e sua prisão já havia sido pedida, foi encaminhado ao cárcere.

Isso não foi ficção, filme ou novela. Aconteceu realmente. É vergonhoso, trágico e assustador o caminho que nossa lei tomou para punir os crimes na sociedade e a ridícula tolerância que vemos com a hediondez perpetrada pelos que sabem que ficarão impunes com todas as desculpas que se dá para manter esse status quo.

Como constantemente diz minha esposa: “Que é isso, Brasil?”


© C. K. Carvalho
Agosto de 2014

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