14 de mai. de 2015

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O CIDADÃO COMUM


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O CIDADÃO COMUM
A ridícula dança entre os serviços públicos prestados e o cidadão mediano

É óbvio que quando se trata de escrever sobre as questões que concernem à administração pública e a qualidade de serviços que esta disponibiliza ao cidadão mediano que paga impostos inseridos nas mercadorias e produtos e desta administração necessita para viver com moderado bem-estar social, os problemas são evidentemente maiores que a capacidade de resolução que esta possua. Porém isso não se constitui uma desculpa lícita para que determinadas ações e políticas públicas não sejam adequadamente efetivadas.

Como exemplo disso, cito as freqüentes perfurações no asfalto das ruas e avenidas que a empresa SAAE faz há anos em Guarulhos – e me restrinjo à região do São João e adjacências – com objetivos dos mais variados, desde corrigir vazamentos (não entendo porque não fazem encanações definitivas) até fazer novas ligações de esgoto (também não entendo porque não planejaram as futuras ligações quando dos projetos de asfaltamento), deixando buracos para que posteriormente (em datas incertas) uma outra empresa venha refazer o asfalto nos locais.

Todos por aqui sabem por experiência pessoal que esta segunda empresa (não sei o nome), não leva em consideração a devida altura à qual devia deixar o novo asfalto, ou seja, no mesmo nivelamento do anterior para se evitar ondulações e a facilidade de se criar novos buracos. Ao contrário da lógica esperada, a dita empresa por toda a região é responsável pela continua sensação de “gangorra” e de “montanha russa” que experimentamos em cada rua da região (sem exceções).

Numa demonstração de tremenda desorganização, de planejamento falho, de falta de previsibilidade estrutural e de um enorme fracasso da sincronia das empresas prestadoras dos serviços públicos, que por sinal têm excelente lucratividade com os péssimos serviços que prestam à população desta região, some a isso a quantidade já cansativa de impostos e mais impostos que pagamos pelos mesmos serviços.

A conta de água[1] vem com a cobrança do famigerado “esgoto”, que é nada mais que um imposto legalizado com outro nome de 100% sobre o valor da conta, ou seja, para cada real de água que passa no hidrômetro, paga-se mais 1 real de “esgoto”.

O IPTU já sofreu vários reajustes durante os últimos anos e, mesmo sendo dito pela Prefeitura que os carnês vêm com descontos, isso só serve para pagamentos à vista. O IPTU é outro imposto pernicioso que insiste em tirar a paz dos quase-donos de imóveis na cidade. É ela dizendo que você não é dono pleno de seu “pedaço de chão”, que ela é sua sócia a quem se deve pagar por essa sociedade, sem maiores benefícios para você, diga-se de passagem.

A conta de energia[2] é uma coisa esplêndida. Ela vem com três impostos embutidos: o PIS (0,42%), o COFINS (1,98%) e o ICMS (25%). Na face de trás, a conta da energia tem um descritivo dos valores e do que está sendo cobrado em reais. Fica assim, numa conta de R$ 153,83:

Tabela 1: Valores de uma conta de energia na cidade de Guarulhos
Detalhe do valor faturado (R$)
Energia elétrica
70,16
Distribuição
27,97
Transmissão
6,07
Encargos setoriais
5,32
Impostos / Tributos
41,34
Multa (se houver) por atraso
2,97
Total
153,83
                      Fonte: conta residencial de energia EDP Bandeirante, abril/2015

É só fazer as contas. Nós pagamos a energia, a distribuição, a transmissão, os encargos setoriais (não sei o que é), os impostos ou tributos e mais alguma multa por atraso. Quem é o maior beneficiado com tudo isso? A companhia elétrica que lucra alto para seus acionistas e todo esse ganho não se reverte em nada para o cidadão. Basta ver como está disposta sua estrutura de controle do capital:

Atualmente, 51% do capital social EDP - Energias do Brasil S.A. é detido, direta e indiretamente, pela EDP - Energias de Portugal S.A. Da parcela remanescente, 48,8% são detidos por acionistas minoritários na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBOVESPA) e 0,2% corresponde às ações mantidas em tesouraria e de posse dos administradores. [3] (grifo nosso)
.
A telefonia não fica atrás no mundo das maravilhas da prestação de serviço. A conta vem com 4 impostos[4]: o ICMS (29%), o ISS (apresenta um valor em centavos de real), o PIS/COFINS (3,65%) e outro PIS/COFINS (9,25%) para outros serviços contratados como SOS TV, por exemplo. Ah, é claro, além de cobrar multas por qualquer atraso, a GVT funciona como uma espécie de banco, lhe cobrando também juros por atraso junto com a multa, sem escrúpulos.

            Como se não bastasse o massacre mensal, ainda convivemos com impostos embutidos em todos os produtos que compramos e mais taxas de serviços públicos para diversas solicitações de documentos ou cadastramentos (2ª via de RG, Certidão de Nascimento e etc.), taxas para solicitações de documentação veicular, taxas de Cartórios, Zona Azul, Imposto de Renda, as famigeradas taxas bancárias e IPVA (uma maldição estadual que persiste em não ser anulada).

Por fim, é preciso salientar que as empresas não nacionais que aqui existem, escapam do pagamento dos impostos da seguinte maneira (desejo me expressar a grosso modo, sem tecnicismos): Inserem no preço final de seus produtos não apenas o lucro que esperam, mas também o valor total de seus encargos, passando a não terem nenhum problema com a questão tributária no Brasil. Em outras palavras, são excelentes pagadoras de impostos com o dinheiro extraído do cidadão que já paga uma infinidade de impostos diariamente, e isso, com o aval de nosso Governo e de leis e acordos que lhes favorecem.

Nossos recursos pessoais são exauridos continuamente de forma malignamente legalizada por nosso próprio sistema de tributação criado e desenvolvido pelos nossos legisladores. E, no fim do túnel, não parece haver uma luz.


Carlos de Carvalho
Cientista Social e Teólogo formado pela Universidade Metodista de São Paulo, fundador da ONG ABAN Brasil e criador do blog Inversa Sociologia.
E-mail: carloscarvalho.2049@gmail.com





[1] Conta de minha residência do mês de abril de 2015, na região do São João.

[2] Conta de minha residência da EDP Bandeirante Energia S.A. da mesma região.

[3]Histórico da EBP Bandeirante. Disponível em: http://www.econoinfo.com.br/docs/edp-bandeirante-energia/historico/dE5lPVlZzDY%2FGSR7RSbPLUAaJD0%3D?p=1

[4] Conta residencial da GVT do mês de abril/2015 da mesma região.