7 de jan. de 2014


SISTEMA FALHO

Um adolescente não pode exercer trabalho a não ser que seja um menor aprendiz, trabalhe menos e ganhe menos por isso. Adolescente é considerado alguém em fase de desenvolvimento e em idade entre 12 e 18 anos. Para nosso sistema, um adolescente é um ser improdutivo que tem “direitos” como o de estudar, ir e vir, brincar, divertir-se, ter cultura e arte, mas nenhum “dever” social ou cívico.

No outro extremo está o lado oposto do sistema (como aquele simbolismo do bem e do mal) que vê nestes adolescentes a garantia da imputabilidade de crimes que, cometidos por adultos, seriam tratados severamente pelo Código Penal. Estes menores são uma “força de trabalho” nas periferias, são iniciados na criminalidade sem reservas morais e ensinados a mentir a seus pais e responsáveis dizendo que estão trabalhando com um amigo ou em algum outro local fazendo “bicos”.

Esses meninos são considerados aptos pelo crime organizado para exercer funções até de gerência do tráfico. Conhecem seus “direitos”, sabem que não têm deveres, atiram sem pestanejar, ameaçam prontamente, atuam com violência brutal, mas são considerados seres que não estão em seu pleno discernimento. Nenhum cidadão consciente é favorável à escravidão em qualquer nível e muito menos de crianças, mas em nome de um discurso de não escravidão, não se pode ocultar os graves problemas sociais que vivemos.

            Os noticiários diariamente nos mostram a verdadeira face deste gigantesco buraco. Não há um dia sequer que não se veicule notícia relacionada com algum crime cometido por um menor. Até quando a sociedade e o sistema não perceberão o caos que está crescendo como uma bola de neve prestes a explodir em nossa face? Precisamos discutir amplamente e com toda a sociedade essas questões sem achar que estatutos e algumas leis de proteção irão resolver o problema.

O sistema está criando seus monstros, os está alimentando e protegendo-os, será que imaginamos que os grandes felinos e as serpentes criadas em casa não se voltarão algum dia contra seus donos? Perdoem-se as fortes analogias, porém o caso é muito mais sério do que pensamos. Não podemos assistir as notícias sentados na poltrona ou sofá de nossa casa, achando que elas não podem ultrapassar nossas cercas de proteção. Elas podem e o farão em pouco tempo.

Antes que me crucifiquem devo acrescentar: sou favorável ao ECA em quase todos os seus artigos, acredito nas leis de proteção para os que precisam delas, não sou racista ou militante extremista de algum setor, sou casado e pai de três filhas que passaram por suas crises de adolescentes também. Portanto, não desmereço os ganhos sociais que as leis nos outorgaram até aqui, somente penso que, como meu pai e avós e muitas das gerações anteriores iniciaram a trabalhar na adolescência, por causa disso não se tornaram pessoas ruins, malignas ou péssimos pais e avós, ao contrário.

“Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte”, disse Jesus (Mateus 5.14). Isto significa que não podemos esconder os fatos que nos bombardeiam todos os dias como se eles não existissem ou não nos dissessem nada. Não podemos “tapar o sol com uma peneira”, nos ensinaram os antigos, porque o astro-rei continuará a dar a sua luz e seu calor através dela. Não se finge que o mal produzido pelo sistema não está agindo no mundo.

É preciso tratar o problema de frente, com seriedade e sem medo do que os falsos pensadores vão dizer. A mídia não nos representa, o sistema não nos representa, nós podemos alterar as leis, mudar o sistema, remover os nossos representantes, porque nós somos os seus criadores e mantenedores. É uma verdade incômoda, mas não deixa de ser uma verdade.

© Carlos Carvalho
Teólogo e Graduando em Ciências Sociais.

Referências:

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. Pdf.


Aumenta a participação de jovens menores de 18 anos em crimes violentos. http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2012/02/01/interna_cidadesdf,288400/participacao-de-jovens-menores-de-18-anos-em-crimes-violentos-aumentou-62.shtml