Guarulhos e o Brasil
Nesta semana (28/08), o IBGE[1]
lançou a estimativa da população das cidades brasileiras, com os dados das
maiores e das menores. A população brasileira é aproximadamente de 202 milhões,
perto dos 203. O município de São Paulo é de longe o mais populoso do país com
mais de 11 milhões de habitantes, e nenhuma cidade brasileira chega perto desta
marca.
Na outra ponta, Serra da Saudade,
no estado de Minas Gerais é o município que possui a menor população, estimada
em 822 habitantes. Os 25 municípios com menor população somam ao todo quase 33
mil pessoas, um percentual de 0,02% dos habitantes do país.
O destaque vai para as cidades
brasileiras de maior população, não levando em conta as capitais. Guarulhos é a
primeira cidade com cerca de 1,3 milhões de pessoas. Ou seja, ela se constitui
na principal cidade brasileira em termos populacionais, sem as capitais. Após
Guarulhos, na lista das 25 cidades mais densas, vem Campinas (SP) e São Gonçalo
(RJ), também com mais de 1 milhão, e as restantes, com menos de 1 milhão de
habitantes.
Guarulhos deveria se orgulhar
destes dados, mas está longe disso, ao menos na perspectiva de grande parte de
seus moradores. Uma cidade que não está interligada, pois a Rodovia Presidente
Dutra a corta quase ao meio e não há viadutos que aproximem os bairros. Existem
passarelas, mas esta medida serve apenas aos pedestres, que precisam se expor a
muitos riscos e grandes caminhadas para acessar os pontos de ônibus.
Há gargalos de trânsitos que já
deveriam ter sido resolvidos, como o da região do Bonsucesso, mas é crônico e
aparentemente tratado com descaso pelos que se utilizam daquelas vias da
região. Existem feiras de longa data em avenidas como no bairro São João (av.
Juarez Távora), onde nos dias de hoje são inviáveis para o trânsito e o
comércio local, mas sem nenhuma solução das autoridades.
Há a contínua e irritante
destruição crônica que o SAAE faz das ruas por toda a cidade, escavando e
esburacando nossas vias, numa demonstração de elevada falta de gerenciamento
das vias aquosas, além da igualmente irritante empresa responsável pelo
recapeamento do asfalto destruído, em não nivelar o novo asfalto pelo anterior,
causando uma infinita quantidade de ondulações que impossibilitam um tráfego
tranqüilo e nulo aos portadores de deficiências – isso sem falar das calçadas irregulares
permitidas por toda a cidade.
Com um dos mais altos IPTU, que a
faz figurar entre as 20 cidades paulistas[2]
que mais o cobram, além de pagar anualmente o famigerado IPVA – que nada mais é
do que o imposto pela propriedade do seu veículo, isso significa que você
compra seu carro todos os anos, e nada é feito para mudar isso! – que ao final,
a rua por onde você anda e por onde seu veículo trafega deveriam ser as
melhores, mas a realidade é outra, não só em Guarulhos, é claro.
Os nossos representantes no
cenário estadual e federal, não se preocupam com a estrutura da cidade, pois
quando percebemos suas movimentações, vemos ações em relação certas questões culturais
e afins, como se somente estes fossem os problemas de uma cidade que é a maior
do país – não contando as capitais. Sem mencionar a segurança e a corrupção
policial e os problemas dos presídios, situações que não acontecem só por aqui.
Outro grande destaque negativo é
a empresa GRU que assumiu o nosso Aeroporto. Não bastasse já ser alvo de investigações[3],
ela deliberadamente, com a anuência ou não (ainda não está claro) da Prefeitura
da cidade, enganou milhares de moradores da região do São João e
circunvizinhança com a inutilização da passagem que dava acesso à Rodovia Hélio
Smidt, com a desculpa esfarrapada de que ponte “não era sustentável”[4]. E
mais uma vez, as coisas continuam como estão, sem que nada seja feito.
O leitor deve notar que todas
essas citações são problemas de ordem estrutural, sem, contudo, adentrar em
diversos outros problemas como escolas, saneamento básico, evasão de grandes
empresas para outras cidades por conta da carga tributária e outros fatores,
como por exemplo, a Raiovac, a Phillips e a Cadbury Adams, fabricante dos famosos
Chicletes Adams, isso apenas para ficar por aqui.
Uma cidade com a vocação de
grandeza e envergadura nacional, pois a porta de entrada do Brasil em muitos
aspectos é Guarulhos, pelo maior Aeroporto da América do Sul e pelo comércio
que passa e é gerado em nossa cidade para todo o país, não pode continuar sem
criar soluções contínuas para os contínuos problemas que uma cidade deste porte
envolve. A política pública e a gestão pública precisam compreender essa
dinâmica e diariamente dar respostas imediatas, não somente aos problemas
sociais, mas também às demandas estruturais e circunstanciais da própria
cidade.
Amar uma cidade não é somente
dizer que a ama, morar nela por décadas ou pensar apenas para uma elite ou
grupo específico. Amar uma cidade é pensar diariamente em soluções para ela
toda. É preciso montar uma equipe apolítica para isso, composta de pessoas que
estão comprometidas, não com guetos, mas com a cidade plena. Mentes capazes de
produzir soluções e em conjunto, pois uma cidade não é gerida por um partido ou
por uma pessoa é construção de todos.
C. K. Carvalho
Teólogo e graduando em Ciências Sociais pela Universidade
Metodista – Pólo Guarulhos.
Fundador da ONG ABAN Brasil
[1]
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/pdf/analise_estimativas_2014.pdf
[2]
http://www1.folha.uol.com.br/infograficos/2013/10/78512-ranking-da-carga-tributaria-municipal.shtml
[3]
http://digital.estadao.com.br/download/pdf/2013/09/26/B7.pdf
[4]
http://www.guarulhosweb.com.br/noticia.php?nr=57964