Crack – a droga da vez
É propagado quase que diariamente
nas principais cidades e veículos de comunicação do Brasil que o crack
representa o atual desafio para a sociedade e governos no quesito da
dependência química nos dias de hoje. Esta droga, que é subproduto da cocaína,
figura como um dos principais inimigos de nossa saúde pública. Apesar de todos
os exageros anunciados, não se pode negligenciar o resultado destrutivo de
qualquer substância química viciante, principalmente o do crack.
Ele apareceu no Brasil por volta
de 1990 e, desde lá, seu consumo não parou de crescer. As estimativas mais
conservadoras dizem que a população de consumidores desta droga, só no estado
de São Paulo pode chegar a 300 ou a 500 mil usuários, porém isso se restringe
às maiores cidades e a capital, sem se ter uma visão clara das realidades no
interior. A difícil recuperação dos usuários é considerada um dos fatores mais
agravantes deste tipo de droga.
Os fatores resultantes de sua
utilização tão amplamente conhecidos hoje são: a degradação física, a quebra
dos laços sociais e relacionamentos familiares, a marginalização, os fenômenos
psicóticos e o isolamento do indivíduo. Além de outros fatores como, a baixa
escolaridade, a pobreza, serem jovens (principalmente homens) e pessoas vindas
de famílias desestruturadas, se somam para produzir um quadro desanimador para
aqueles que intentam pensar e promover políticas públicas que contemplem uma
solução viável para o problema.
Para incrementar ainda mais as
dificuldades, não existe nenhum medicamento que possa ser usado no tratamento
da dependência química capaz de diminuir a vontade de usar a droga. Nossos
hospitais gerais, em sua grande maioria, não dispõem de psiquiatras e muito
menos de psiquiatras especializados em dependência química para o atendimento
clínico e emergencial. Também não dispõem de estrutura física nem de enfermagem
e corpo técnico treinado para esse tipo de atendimento.
Além de tudo isso há as críticas
feitas pelos profissionais da saúde, como os psiquiatras, que consideram que
não existe ainda uma visão ampla das questões associadas no uso do crack. Esses
profissionais afirmam que não se pode tratar o usuário simplesmente como um “transgressor”
ou como um “ser criativo” quando do ato dele se utilizar das drogas,
romantizando o problema. Também não há, para os mesmos, a utilização do livre
arbítrio nesse uso.
Ao contrário, o cérebro de um
dependente é danificado e modificado de tal modo que a pessoa deixa de ter
escolhas, só restando a busca da substância como objetivo e sentido da vida. Outra
coisa asseverada por alguns é que não há uma cultura de prevenção da utilização
das drogas em nosso país, pois tradicionalmente realizamos a política do
“apagar o incêndio”, sempre sofrendo os prejuízos deste modelo de atuação. É
sabido que como povo, somos altamente tolerantes e muito pouco precavidos e
isso não nos ajuda na resolução de problemas mais graves.
Neste momento, o problema é o
crack, mas não podemos minimizar que paralelamente e simultaneamente, sofremos
na mesma medida com outras drogas, como a maconha, a cocaína e etc., e ainda
com as legalizadas, como o tabaco e o álcool. Todas elas igualmente têm sua
parcela na destruição do tecido social no qual vivemos. Todas elas possuem o
poder dizimador da saúde de seus usuários e as consequências para a economia do
Brasil.
As soluções não podem ser
simplistas e o remédio não é um fármaco único que poderia resolver prontamente
todas as doenças e os resultados delas manifestos diante de nós todos os dias.
Para problemas complexos exigem-se soluções complexas, multidisciplinares,
amplas, com cosmovisão holística, incluindo não apenas o indivíduo todo, mas
também sua rede de relacionamentos. Isto sim se configura no tremendo desafio
para a nossa sociedade atualmente. Não é trabalho somente para especialistas,
mas para todos: a sociedade, as comunidades, os governos, os pensadores, a
igreja, os canais de comunicação e a família. Todos.
Carlos Carvalho
2 de junho de 2014
Referências:
CRACK: UM DESAFIO SOCIAL. Sapori LF, MedeirosR,
organizadores. Belo Horizonte: EditoraPUC Minas; 2010. 220 p.ISBN:
978-85-60778-70-6. Resenha. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(2):405-406,
fev, 2012. PDF.
DEBATES. Publicação da ABP – Associação Brasileira
de Psiquiatria. Ano 2. Nº3. Mai.Jun de 2010.
GEOGRAFIA DA DROGA: um desafio sem dimensão. Jornal
O Estadão.
Disponível em: http://infograficos.estadao.com.br/especiais/crack/geografia-da-droga-um-desafio%20sem-dimensao.html.
Acessado em 02.06.2014.