13 de jun. de 2013


A Ideologia no Livro Didático

     Se a ideologia serve como instrumento de dominação e as idéias dos dominantes passam a ser as idéias de todas as classes sociais por causa do próprio processo ideológico, não seria de estranhar que na educação das massas, o livro didático fosse recheado de uma ideologia que não apenas discrimina o trabalho manual e valoriza o trabalho intelectual, mas também, esse espaço (o livro didático) discriminará todas as coisas e representações que não se ajustam ao pensamento construtor de sua ideologia.
    Li um pequeno fragmento do livro "Ideologia no livro didático", de Ana Lúcia G. de Faria e algumas frases saltam à atenção nele e descrevo-as para nossa consideração. Por exemplo, “para o livro didático o trabalho intelectual é mais moderno” (p.66), “a divisão do trabalho no livro didático é uma questão de forma” (p.66), e “existe uma relação entre campo e cidade para o livro didático” (p.68). Esta última é sempre uma relação diferenciada no aspecto que no campo o trabalho é menos valorizado e atrasado, ao passo que na cidade o trabalho é melhor e mais “profissional”.
    Se pensarmos na maneira como a população de um modo geral em nossos dias vê e define o trabalho do campo e o da cidade, podemos perceber o quanto a influência desta ideologia foi eficiente ao longo dos anos. Qualquer estudante em curso de formação básica e fundamental que tenha acesso ao livro didático que aborda o assunto, fatalmente terá uma idéia no mínimo distorcida do trabalho produtivo que é realizado em ambos os ambientes.
    A lógica do capital tanto corporativo como especulativo necessita desta ideologia para criar não somente suas raízes na sociedade em que foi implantado, como para reproduzir seu próprio sistema de dominação sobre a maioria que controla. O controle é a chave para a dominação e a dominação se dá pela ideologia, assim o ciclo vicioso do domínio/capital/ideologia sobre o dominado/subalterno/atrasado se perpetua.
    Certamente nada mais efetivo para um sistema ideológico de dominação que atuar nas bases da sociedade que procura controlar. Portanto, o instrumento mais seguro de consolidar seu domínio é exatamente no início da formação do indivíduo, na escola. Lá todos são iniciados no pensamento coletivo, por lá todos compulsoriamente passam, e é então por lá, a melhor e mais incisiva investida para manter a ideologia da dominação.
    Se o trabalho no campo não é o desejado pela maioria das pessoas que agora habitam ou migraram para as cidades e metrópoles em busca de uma “vida melhor”, é óbvio que a profissionalização, a educação voltada para as demandas do sistema de capital, a ênfase e propaganda da temática do trabalho “superior” será a coisa principal no interior do sistema educacional.
    O livro didático, neste caso, cumprirá seu papel “natural” no sistema, pois não poderá enfatizar ou enaltecer um tipo de trabalho que não serve ao modelo de capitalismo dominante nessa sociedade específica. Mas ainda poderíamos estender a discussão para outro âmbito educacional, o nível superior. Uma pergunta também pode ser feita: a faculdade ou a universidade não estão reproduzindo o mesmo sistema ou pensamento ideológico?
    Quando se faz propaganda que a maioria dos alunos que cursam esta ou aquela universidade já saem de lá com emprego garantido ou com alto índice de sucesso corporativo ou profissional não se perpetua o domínio do sistema do capitalismo que gera por sua vez toda a problemática discutida? O livro didático é o fator determinante da discriminação da divisão do trabalho e da manipulação da informação sobre o problema ou é apenas o subproduto ou a reprodução do próprio sistema que vivemos?
    Com a palavra os especialistas.


Referência:

Ideologia no livro didático, de Ana Lúcia G. de Faria, Editora Cortez.

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